Ano Um / Número 18
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Tábua de Matérias
§ 1. Sumaríssimo.
§ 2. Dito e Feito, por P.D.
§ 3. …, por José Agostinho Baptista.
§ 4. PAM XVIII: Sarah Bernard.
§ 5. O Silêncio reticente, por A.H.
§ 6. De Saída: Número 19 (agora, daqui as duas Quintas!).
§ 7. A Galinha (Conto Para Meninos Sem Juízo), por Federico Garcia Lorca.
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§ 1. Sumaríssimo.
Este é um Número dedicado ao silêncio. Sshhh… &, sobretudo, não acordem as galinhas!...
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§ 1. Sumaríssimo.
Este é um Número dedicado ao silêncio. Sshhh… &, sobretudo, não acordem as galinhas!...
Boa sorte...
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§ 2. Dito e Feito, por P.D.
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§ 2. Dito e Feito, por P.D.
Ludwig Wittgenstein.
7. Wovon man nicht sprechen kan, darüber muss man schweigen.
(Participação especial do amigo Ludwig)
P.D.
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§ 3. …, por José Agostinho Baptista.
De quanto é passado advém-nos o silêncio,
o labor das larvas.
São mares interiores, a vegetação, nervos –
como algas a sua dança enlouquece-nos, estala numa
erupção de fibras:
é a terra; minerais, fontes,
e selva galgando artérias;
é a terra isto que descemos,
as pás que a sulcam, desnorteadas, com a sua arte devastadora
por dentro –
dessas entranhas nos saciámos,
colhemos o medo e a mágoa,
névoa dos túmulos, ossos, uma geada profunda.
José Agostinho Baptista, Autoretrato
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§ 4. PAM XVIII – Sarah Bernard.
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§ 5. O Silêncio reticente, por A.H.
Zero.
- ou, Acerca dos inocentes, hay que... provocarlos. Sin màs.
(cont.)
A.H.
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§ 6. De Saída: Número 18 (agora, só daqui a 2as Quintas!)…
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§ 7. A Galinha (Conto para meninos sem juízo), por Federico Garcia Lorca.
jEAN Cocteau e os peixes-GAlinha em 1957...
A GALINHA
(CONTO PARA MENINOS SEM JUÍZO)
Havia uma galinha que era idiota. Eu disse idiota. Mas ainda era mais que idiota. Picava-lhe um mosquito e saía a correr. Picava-lhe uma vespa e saía a correr. Picava-lhe um morcego e saía a correr.
Todas as galinhas temem as raposas. Mas esta galinha queria ser comida por elas. E daí que fosse uma galinha idiota. Não era uma galinha. Era uma idiota.
Nas noites de inverno a lua das aldeias dá grandes bofetadas às galinhas. Umas bofetadas que se ouvem pelas ruas. Dá muita vontade de rir. Os padres nunca serão capazes de compreender o porquê destas bofetadas, mas Deus sim. E as galinhas também.
Todos precisam de saber que Deus é um monte vivo. Tem uma pele de mosca e por cima uma pele de vespa e por cima uma pele de andorinha e por cima uma pele de lagarto e por cima uma pele de lombriga e por cima uma pele de homem e por cima uma pele de leopardo e tudo. estais a ver tudo? Pois tudo e ainda uma pele de galinha. Isto era o que a nossa amiga não sabia.
Dá vontade de rir quando reparamos na simpatia das galinhas! Todas têm crista. Todas têm cu. Todas põem ovos. Que me dizes?
A galinha idiota odiava os ovos. Os gatos gostavam deles, é certo, tal como as mãos direitas das pessoas gostam das picadas das silvas ou da iniciação no alfinete. Mas ela odiava o seu próprio ovo. Nada mais bonito, porém, do que um ovo.
Recém-tirado das espigas, mas quente, é a perfeição da boca, a pálpebra e o lóbulo da orelha. A face quente da que ainda agora morreu. É o rosto. Não entendeis? Eu entendo. Dizem-no os contos japoneses e sabem-no também algumas mulheres ignorantes.
Não quero defender a beleza enxuta do ovo, mas como toda a gente louva a pulcritude do espelho e a alegria dos que se espojam na relva, bem está que eu defenda o ovo de uma galinha idiota.
Quero dizer: uma galinha amiga dos homens.
Uma noite a lua estava a repartir bofetadas pelas galinhas. O mar e os telhados e as carvoeiras tinham a mesma luz. Uma luz de onde o besouro recebe as flechas de toda a gente. Ninguém dormia. As galinhas não podiam mais. Tinham as cristas cheias de orvalho e os piolhos tocavam as suas campainhas eléctricas durante o eco das bofetadas.
Por fim um galo decidiu-se.
A galinha idiota defendia-se.
O galo cantou três vezes, mas os galos não sabem enfiar bem as agulhas.
Os sinos das torres tocaram porque tinham de tocar e os regueiros e os corredores e os que jogam golfe ficaram três vezes roxos e tilintantes. Começou a luta.
Galo rápido. Galinha idiota. Galinha rápida. Galo idiota. Ambos rápidos. Ambos idiotas. Galo rápido. Galinha idiota.
Lutavam. Lutavam. Lutavam. E assim toda a noite. E dez. E vinte. E um ano. E dez. E sempre.
in, Suicídio em alexandria, Série K, & etc, Lisboa, 1981.
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